Por que é preciso uma transformação cultural para fazer inovação aberta?

Por que é preciso uma transformação cultural para fazer inovação aberta?

Por Emílio Volpe de Oste

Toda vez que eu ou algum de meus colegas precisamos explicar o que o LinkLab faz, é praxe dizer que somos um programa de inovação aberta, onde corporates e startups se conectam para gerar projetos. Falamos sobre nossa missão que é ajudar corporates a encontrar as fontes externas que às ajudarão a resolver seus desafios, gerando projetos, novos produtos e, assim, também sendo inseridas no ecossistema de inovação.

Colocando assim, parece algo simples, corriqueiro, certo? Mas a realidade é mais complexa e trabalhosa. Grandes empresas, corporações – Corporates, como as chamamos -, devem passar por uma transformação cultural e se habilitarem para uma mudança de estratégia para permitir a inovação aberta.

Foi o que aconteceu com a P&G, um grande case de Open Innovation, e pasmem, há quase 20 anos! Em 2003, quando a P&G havia alcançado uma maturidade corporativa elevada, estavam presentes em diversos países e contavam com cerca de 7500 pesquisadores e equipe de P&D(Pesquisa e desenvolvimento). Mas perceberam que investir cada vez mais na inteligência interna deixou de ser diretamente proporcional ao seu retorno. Foi quando A.G. Lafley, CEO na época, reinventou o modelo de negócios da companhia, traçando a ambiciosa meta de que 50% de todas as inovações da empresa deveriam vir de FORA.

Além de contar com 7500 pessoas internas, eles poderiam contar com talvez milhões de mentes brilhantes pelo mundo afora, ao habilitar uma barreira permeável entre os times internos e as ideias e talentos externos. Entendendo este conceito, criaram o modelo de inovação chamado Connect and Develop. Larry Huston, VP de inovação na época, comenta que para incorporar o processo à empresa e se tornar rentável, gerar valor econômico, foi algo liderado desde cima e que se este modelo fosse aplicado somente como uma estratégia unicamente do time de P&D, isolado, estaria fadado ao fracasso. Por isso era necessário que partisse do próprio CEO, desencadeando uma profunda transformação cultural em todas as áreas da companhia.

Neste momento, precisamos de um disclaimer: AVISO: Este conteúdo pode ser sensível para aqueles com aversão a ideia de mudar toda uma companhia, deixar de fazer o que fazem a décadas e reaprenderem a crescer agora e no futuro!

Steve Blank acredita que a maior parte das corporações faz “Inovação de Teatro” em vez de inovação de fato. Isso ocorre principalmente por que empresas estão quase inteiramente focadas em executar processos já existentes. Isso torna o ambiente tóxico para que novas ideias, novos projetos, de fato, sejam integrados a estratégia e entregues de maneira rápida e rentável. Isso só será possível se toda a companhia compartilhar das mesmas crenças e princípios, tendo um alinhamento. O remédio para isso é criar uma visão, uma cultura de inovação, que parte de dentro até o círculo mais externo da empresa, garantindo que exista uma política de recursos, procedimentos, cronograma e donos dos projetos durante todo o processo até sua entrega.

Existe uma urgência em entrar na arca da inovação antes que o dilúvio chegue e seja tarde demais, e isso tem causado uma corrida para se relacionar com startups, que são capazes de introduzir rapidamente inovações e cultura. Essas conexões são de extrema importância, porém, é preciso ter mais direção que movimento. Pilotos e pitchdays podem ser muito importantes, mas por si só não garantirão projetos vencedores, servem para aproximar importantes stakeholders dentro da corporate, mas não serão os verdadeiros drivers de mudança de cultura.



Do que é feita uma cultura de inovação?
Depois de apelar a Steve Blank, agora continuaremos nos apoiando nos ombros de gigantes. Gary Pisano, professor na Harvard Business School, tem uma abordagem excelente que ajuda a entender como habilitar uma corporação à inovação. Em um artigo tratando sobre o tema, Gary adverte que conceitos que parecem ser senso comum na cultura de inovação, como tolerância a erros, aptidão a experimentação, liberdade de opiniões, colaboração e gestão horizontal, podem parecer divertidos, mas devem ser contrabalanceados por outros mais duros e não tão animadores.

Muitas empresas não conseguem aplicar esses conceitos, justamente por não verem a necessária contraparte. A tolerância a erros requer intolerância a incompetência. Aptidão a experimentação requer rigorosa disciplina. Liberdade de opiniões requer uma franqueza brutal. Colaboração deve ser balanceada com auto responsabilização. Assim como uma hierarquia horizontal requer uma forte liderança.

Se você achou tudo isso muito paradoxal, é porque é mesmo. Cultura de inovação nasce do balanço muito bem orquestrado entre o Caos e a Ordem. Não é o que muitos imaginam quando pensam em inovação, mas aqueles que estão à frente da doutrina da inovação como Blank e Gary sabem que fora disso nada muito concreto se realiza. Vemos isso sendo reafirmado em Eric Ries, quando deixa claro que para inovar em meio a extrema incerteza e disrupção nos mercados de hoje, startups devem agir com rigor de experimentação científica, por meio da “Aprendizagem Validada”. É o mesmo conceito paradoxal que acabamos de ver.

Estes conceitos são duros, são forças complexas e mais uma vez, lembramos que devem ser dos líderes o papel de implantar e cultivar o equilíbrio entre elas. Assim como vimos acontecer na P&G – esse foi o ponto mais relevante para o sucesso do Connect & Develop. Toda mudança na organização começa com a mudança de si mesmo, e é sempre mais efetiva quando feita a partir das lideranças.

Agora que descemos ao nível unitário, é preciso entender que mudanças são lindas no papel, mas precisamos lembrar que acontecem e são realizadas a partir de pessoas. Por isso, é muito importante que sua empresa seja formada por bons profissionais, pois estes serão capazes de acompanhar e suportar a companhia durante sua mudança de mindset. Técnicas e processos podem ser aprendidos, mas bons profissionais são aqueles que possuem agilidade, resiliência, tenacidade e curiosidade, características dificilmente treináveis. Um bom time será capaz de levar a cabo a transformação necessária, caso contrário, algumas pessoas podem ficar pelo caminho, assim como vemos acontecer de forma semelhante com grandes corporações que não são capazes de se adaptarem.

Assim, quando a corporate se abrir para inovação aberta com startups, independente do tipo de relacionamento, terá mais que um terreno fértil, terá um caminho natural onde a cultura de inovação permite que fontes internas se somem às externas para geração de RESULTADOS.

Não dá pra responder tudo isso quando alguém pergunta o que o LinkLab faz! Mas é isso: o caminho é percorrido por cada corporação e a nossa missão é orientar e criar grandes oportunidades para aprendizado e mudança de cultura. Garantindo que os relacionamentos abundem em negócios e em geração de valor!

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