Como vencer as barreiras da inovação aberta?

Como vencer as barreiras da inovação aberta?

Por Gustavo Susin

É evidente que a grande parte das empresas globais, hoje, enxerga a importância da digitalização e do contato com o mundo de startups. Segundo pesquisa realizada pela unidade de inteligência da revista The Economist, entre os 600 executivos entrevistados, 83% planejam aumentar o investimento em estratégias digitais para as suas empresas nos próximos 12 meses.

Apesar de a inovação aberta ser um bom caminho para reunir ideias externas à corporate para criar soluções melhores e mais ágeis para seus consumidores ou para uso interno, integrar startups dentro do seu processo de inovação exige cuidado no planejamento e na execução.

De acordo com pesquisa da Accenture, somente 44% das tentativas de relacionamento entre corporates e startups obtém sucesso. Se está tão clara a importância e necessidade de investimento na estratégia digital por parte das empresas, quais são as causas que fazem esta taxa não ser de 100%?

Praticar a inovação aberta idealizada por muitos não é uma tarefa fácil. O sucesso depende do aprendizado de ambos os lados, entendendo interesses, expectativas, incentivos e cultura. São muitas as barreiras e desafios que impedem o sucesso neste relacionamento de colaboração.

Com as experiências que tivemos nos últimos três anos de operação do LinkLab, conseguimos elencar as principais barreiras e como podemos quebrá-las. O abismo entre a estratégia de inovação e a estratégia da empresa, que leva à ações desordenadas e ineficientes. A expectativa dos shareholders de obter um retorno a curto prazo. A falta de suporte estratégico, através da figura de um decisor, em todos os processos da inovação. A falha de comunicação entre a área de inovação e as demais áreas da empresa. Por fim, a aversão ao risco traz prejuízos para toda a transformação cultural de uma corporação. A menos que todas estas barreiras sejam derrubadas, a sua empresa não irá avançar nos resultados de inovação aberta.



O abismo entre a estratégia de inovação e a estratégia da empresa
Inovação aberta, por si só, não pode ser considerada como uma estratégia. Ela faz parte de uma estrutura maior, que considera toda a estratégia organizacional, visão de futuro e operações do dia-a-dia. Muitas empresas tratam inovação aberta somente como uma unidade de negócio totalmente separada e isolada – isso aumenta os riscos, oportunidades perdidas e custos desnecessários. Todos os diferentes projetos de inovação aberta devem estar integrados e relacionados ao contexto estratégico geral.

Aqui no LinkLab, sempre que é feito o onboarding de uma corporate, realizamos o chamado LinkLab Discovery. Além de mostrar sobre os processos do programa e sobre a metodologia de acompanhamento dos relacionamento com as startups, o LinkLab Discovery serve para nós, como equipe, entender ao máximo a atual estratégia da empresa, a sua visão de futuro e onde a inovação se enquadra neste panorama. Desta maneira, conseguimos, juntos com a corporate, definir quais serão os desafios prioritários a serem tratados no LinkLab.



Expectativas dos shareholders
Toda organização precisa gerenciar as expectativas de seus shareholders em relação à inovação. Usualmente, acionistas possuem interesses de retorno financeiro no curto prazo; contudo, é sabido que os maiores benefícios (financeiros, estratégicos e culturais) da inovação são visíveis no longo prazo. Entre os 600 executivos entrevistados na pesquisa da The Economist, quase 60% disseram que a inovação entrou em suas estratégias há menos de dois anos, ou seja, ainda estão em um estágio inicial e não vivenciaram todos os retornos da inovação.

Como parte da nossa metodologia de relacionamento entre corporates e startups, temos desafios que já trazem resultados de melhorias de processos internos em seis meses, porém, os relacionamentos visando a entrada em novos mercados ou desenvolvimento de novos produtos, exigem um projeto de até 2 anos, dependendo da complexidade.



Falta de suporte estratégico
Para que ocorra conciliação entre a estratégia da organização e a estratégia de inovação e, também, para gerenciar as expectativas dos acionistas, é vital que haja um decisor estratégico assumindo a responsabilidade pelos projetos de inovação. A figura de um líder, com poder dentro da empresa, que patrocine e apoie a inovação traz maior engajamento das outras áreas e das próprias startups que se relacionarem.

No LinkLab, para todo novo desafio que a nossa equipe mapeia, precisamos ter um tomador de decisão que apoie esta necessidade, esteja presente nas reuniões com as startups e, principalmente, dê o aval para a aprovação de um projeto.



Falha de comunicação entre área de inovação e todas as áreas da organização
A área de inovação não é um fim, mas um meio. Ela é a responsável pela estratégia e pela cultura de inovação, porém deve estar alinhada e em constante comunicação com as demais áreas da empresa. Para que a inovação possa resolver desafios de toda a empresa, ela deve ouvir e entender todos os contextos e problemas de outras áreas. Ainda segundo a pesquisa realizada pela The Economist, 53% das empresas concordaram que a sua “estratégia de digitalização” pode ser considerada somente como uma diferença de terminologia para “estratégia de TI”, revelando que, ainda, muitas empresas possuem suas áreas de inovação presas, cercadas pelo próprio aquário.

No LinkLab, entendemos a importância dessa comunicação e que toda área da empresa deve ser inovadora. Como programa, precisamos de um mapa dos stakeholders, entendendo os principais agentes que possibilitam a inovação na corporação. Assim também é possível realizar eventos, como o Innovation Kickoff, que trazem as áreas internas para conhecer e discutir sobre tecnologia, facilitando a comunicação com a área de inovação.



Aversão à falhas
Na cultura de grandes corporações, a presença de falhas traz duras consequências para os envolvidos. Ao contrário da cultura das startups, os erros são evitados e, quando acontecem, são escondidos e ninguém quer reconhecê-los. Aqui, para quebramos essa barreira, a transformação cultural é o ponto da virada. É papel de todos os C-Level sensibilizar e estruturar a empresa para uma abordagem mais colaborativa, aberta à novas ideias e processos, enxergando todas as falhas de maneira rápida e com uma visão de aprendizado. No próprio LinkLab, para incentivamos esta mudança de pensamento nas nossas corporates, estamos sempre testando novas entregas, eventos e metodologias – testando e errando, mas sempre buscando entregar mais valor.



A inovação aberta é um excelente caminho para acessar novas perspectivas e modos de pensamento diversificados. Toda corporate irá enfrentar algumas barreiras durante a sua jornada na inovação aberta, contudo, o quanto antes a identificação e a quebra dessas barreiras forem realizadas, menos tempo a corporate irá despender “apertando parafusos”.

Um bom início de um projeto de inovação aberta consiste no planejamento de quais serão os objetivos e metas a serem alcançadas, não esquecendo que a inovação aberta deve estar alinhada com a estratégia da organização.

Por fim, o mais importante, trabalhe a inovação aberta ao lado de parceiros estratégicos corretos, garantindo que todo o processo de formulação da estratégia, mapeamento dos desafios, busca por soluções, acompanhamento e implementação de projetos ocorram da melhor maneira possível enquanto a sua empresa gera o aprendizado na prática.

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